No início deste ano escrevi um
artigo sobre o modelo de educação da Coreia do Sul e agora, depois de
uma semana neste país gostaria de refletir um pouco mais, à luz das
experiências encontradas nas ruas, nas empresas e principalmente nas
universidades.
Numa época de mudanças e oportunidades é indispensável refletir sobre
o modelo educativo integral que precisamos para, com os demais pilares,
impulsione a competitividade e dessa forma permita que a geração de
conhecimento se converta efetivamente em resultados positivos para o
setor produtivo de bens e serviços.
O Brasil, uma das dez maiores economias do mundo, aumentou seus
investimentos em educação de 1% do PIB a 2,5% em 2011, mas ainda não é
muito competitivo. E para que sejam gerados novos produtos e serviços de
valor agregado em setores estratégicos se requer bem mais do que o
mínimo investimento em ciência, tecnologia e inovação.
É necessário, para ser eficiente, que no Brasil se desenvolva uma
nova cultura: desenvolver o ser humano em todas suas dimensões, com
bases firmes e aprendizagem ao longo da vida. Assim, o desafio é muito
maior, inclui mudanças e articulação dos sistemas de educação básica,
média e superior e a dinâmica empresarial e social.
Especificamente sobre a Coreia do Sul, gostaria de apresentar alguns
elementos que julgo importantes para compreendermos o avanço de um país
que percebeu na educação o vetor de desenvolvimento nacional e acima de
tudo a consciência e a importância de gerar valor através do
conhecimento e assim se tornar competitivo.
A Coreia do Sul tem um dos sistemas educativos mais avançados do
mundo em matéria tecnológica, apesar de ser uma economia em
desenvolvimento e de que o gasto fiscal em educação seja baixo em
relação à média. Os altos índices de qualidade da educação coreana são
tão surpreendentes como a história sobre a que foi forjada.
Depois de enfrentar uma guerra durante 3 anos com Coréia do Norte, e
a ocupação japonesa (entre 1960-1970), foi que começou na Coréia do Sul
um fantástico processo de modernização econômica, política e social.
Mas, sem dúvida alguma, o que desencadeou este processo foi o aumento
da matricula de estudantes. A decisão imperativa do governo foi atribuir
à educação a única alternativa para a saída de uma situação de penúria
que passava o país.
Dessa forma o Estado se viu obrigado a tomar uma atitude em matéria de políticas
públicas, gerando novos estabelecimentos educativos ao mesmo tempo em
que capacita e respeita os educadores. A propósito, numa conversa rápida
com um professor de ensino médio, perguntei com um pouco de reserva
,qual era o salário médio dos professores. A resposta foi direta. 9
milhoes de wons. Com a ajuda do conversor de moedas, chega-se ao digno
salario de 14mil reais mensais.
Em particular, a erradicação do analfabetismo em massa foi alcançada
com sucesso, juntamente com estabelecimento da educação primária
universal que forneceu a base para formação de capital humano e
socialização através da educação básica pública.
Num passeio rápido pelas ruas de Seul percebe-se que o país se
notabiliza por ser um dos mais avançados em termos de tecnologia no
mundo, onde o desenvolvimento tecnológico foi utilizado para dar forma a
uma reforma educacional que tem como um de seus principais eixos às
Tecnologias da Informação.
A gênese deste processo se inicia na universidade como fonte
investigativa e chega a todos os estudantes, se transformando em bem
social. Os resultados colocam a Coréia do Sul nos primeiros lugares nas
provas TIMSS e PISA, o que pode atestar como um dos modelos educativos
de maior reconhecimento na atualidade. Hoje, além de converter-se numa
das economias emergentes, o país conseguiu posicionar seu sistema
educativo entre os mais eficientes do mundo.
A receita parece simples: o investimento político em educação foi
forte, porque educação é compreendida como base do futuro econômico - o
governo gasta quase a metade do que gastam os Estados Unidos nos alunos
da educação primária, mas conseguiu resultados mais altos.
O início deste eficiente sistema educacional teve como base uma longa
trajetória de políticas públicas destinadas a melhorar a educação, e a
partir da Segunda Guerra Mundial, quando as forças militares
estadunidenses ocuparam o sul da Península da Coreia, foram assentadas
as bases deste sistema, inspirado no modelo norte-americano. Desde então
o governo desenvolveu um sistema educativo adequado às diferentes
etapas de desenvolvimento que viveu o país.
Nos últimos quarenta anos o governo introduziu uma série de planos
econômicos que enfatizaram o crescimento da indústria exportadora, pelo
que as políticas educativas estiveram focadas em prover mão de obra
qualificada à economia, reforçando o currículo escolar na área
tecnológica e científica. Assim, a qualidade, relevância e excelência da
educação se converteram em prioridades do governo.
Por outro lado, a Coreia do Sul, nos últimos cinco anos estabeleceu
como uma das prioridades de governo, a política de qualificação do
capital humano, baseada na qualificação dos recursos humanos como
estratégia para o desenvolvimento econômico do país.
O resultado é um sistema de formação de capital humano que
possibilita a interação do investimento em educação com o crescimento
econômico, bem como diversas políticas que convergem para um círculo
virtuoso entre educação, emprego e bem-estar e que é imperativo o
investimento em formação dos cidadãos para o desenvolvimento nacional.
Fonte: www.opovo.com.br