Com o título “Como escolher bem um vice”, eis artigo do publicitário e escritor Ricardo Alcântara
Há três fases de definição eleitoral: a primeira é quando se define o
candidato. A segunda, que às vezes a precede, é a composição das
alianças. A última, decorrente desta, é a indicação do nome que irá
compor a chapa como candidato a vice, o substituto eventual
juridicamente assegurado.
Atualmente, se falamos em Fortaleza, com três semanas para a data
final de definição, ainda não foi concluída a primeira fase. Pelo menos
mais um nome de peso pode ser lançado: o candidato do governador. Outro
ainda poderá recuar: a candidatura de Moroni ainda não foi confirmada
pelo próprio candidato.
A muito relevante definição das alianças será, por força do
cronograma, servida já com os nomes dos respectivos vices anexados. A
indicação de um vice é irrelevante? Apenas quando é mal construída,
atendendo a conveniências personalistas ou relegada, por falta de
opções, a um “vai tu mesmo”.
Sobre isso, é preciso esclarecer que vice, ainda que muito popular,
não produz votação cumulativa. Estudos demonstram que mesmo as maiores
contribuições poucas vezes agregaram mais do que 5% da votação original
do candidato titular – diferente do futebol, onde Pelé e Garrincha nunca
perderam uma só partida jogando juntos.
Mais do que votos, um vice oferece a ampliação simbólica do perfil de
uma candidatura. Não há mais exemplar ilustração do que a presença do
empresário self made man José de Alencar na chapa que levou a versão “paz e amor” do PT a superar sua marca histórica de rejeição, colocando o Lula lá.
Assim como um líder operário buscou apoio em um empresário para dar à
sua campanha as garantias que parte do eleitorado precisava – as regras
do mercado seriam respeitadas – também um capitão da indústria poderia
precisar da companhia de um líder popular para avalizar compromissos
sociais.
Então, um bom vice oferece isto: um contraste. Um rosto experiente
para avalizar um candidato muito jovem ou um jovem que dinamize um
candidato de idade avançada. Uma mulher que suavize aspectos agressivos
de um xerifão ou, ao contrário, um cão de guarda ao lado de uma face
meiga de mãe.
Um vice do qual nenhuma parcela expressiva da sociedade possa dizer
coisa alguma é um zero à esquerda, por mais atributos que a mãezinha
dele jure que seu filho tem. Pior – já que aquele seria apenas uma
nulidade – é o vice que não agrega em contraste, só provoca
contradições.
É quando a presença dele na chapa é uma negação eloquente de tudo
aquilo que o candidato promete. Quem arriscaria discursos sociais
reformistas ao lado de um banqueiro? Marina Silva, por exemplo, jamais
poderia subir no palanque com um plantador de soja – seria uma alface
transgênica.
Igualmente problemático é o vice que derrapa no equívoco de pensar a
campanha como oportunidade de ampliar seu próprio eleitorado,
rivalizando com o candidato e subtraindo dele preciosos espaços na
propaganda de televisão. A menos que seja muito popular, a exigência é
um gol contra.
O bom vice se impõe pela força de sua presença como decisão política.
O significado de sua participação não é numeral, mas qualitativo. Fosse
popularidade sua principal contribuição, seria ele o candidato e não o
outro. É naquilo que amplia, subjetiva ou politicamente, que ele é mais
decisivo.
Publicitário e escritor.
Fonte: Blog do Eliomar